“Durante quinze dias seguidos, vigília. Homens e mulheres da ocupação conhecida como Pinheirinho praticamente não dormiam. Revezavam-se na guarda do gigante terreno de mais de um milhão de metros quadrados. A ordem para reintegração de posse da área pertencente à massa falida da Selecta, empresa do especulador Naji Nahas, havia sido emitida. Uma ordem federal que anunciava suspensão temporária da medida, porém, fez com que os moradores baixassem a guarda. A ocupação ganhara alguns dias e eles poderiam dormir tranquilos. Mas às seis horas da manhã de domingo (22/02), foram surpreendidos pela Polícia Militar. Despreparados.” Ana Ignacio
Essa é a história “não fotográfica” da imagem. O projeto com os moradores do assentamento do Pinheirinho começou em 2009, ao lado de três jornalistas. Ao saber da reintegração entramos em contato com os moradores. Aconselharam esperar. Não conseguiríamos atravessar a barreira da Polícia Militar. Esperamos.. no dia 25/02, três dias após a reintegração, recebemos o “OK”. O equipamento já estava todo separado dentro da mochila rasgada.
Ao chegar à Paróquia a foto estava pronta. A luz dura e contrastada do meio dia, o carro à direita criando a diagonal, de fundo a Paróquia onde os moradores estavam alojados e no meio de tudo as pessoas carregando os pertences que conseguiram salvar.
Sem graça.
Faltava alguma coisa. E é aqui que entra o acaso. Resolvi esperar, sabia que a composição valeria a pena. Descobri que o que faltava eram dois rapazes no centro da imagem, um de boné sem camiseta e outro de regata com a mochila nas costas. De quebra ainda ganhei um senhor de chapéu segurando a mão da filha ao lado da mãe, preenchendo o vazio que distrairia o olhar do leitor.
Escrevendo esse post e revendo a imagem percebi que aquela Mãe e Filha são as mesmas que fotografei no Ginásio Morumbi horas depois.